sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Mas que flores eram estas!

O dia estava chuvoso. O vento assobiava. As nuvens carregadas de energia tornavam-se escuras contribuindo para o cinzento dia, em que este dia se tinha transformado. Caminhava em direcção a casa para junto de ti dar por terminado este dia. O trânsito estava caótico. Resolvi mudar de direcção. Virei à esquerda consciente que não sabia onde iria conduzir-me aquela estreita rua. O trânsito obrigava-me a conduzir cautelosamente e devagar. Ouvindo a música que o rádio me oferecia ia direccionando o meu olhar, ora para um, ora para o outro lado daquela rua que aproveitava para conhecer. Ladeada por dois largos passeios, onde se erguiam as casa ali moradoras, umas mais baixas que outras, entretinha-me tentando imaginar quem nelas morava e sentia já o aconchego do lar e do final de um dia tão frio. Carros geometricamente alinhados uns atrás dos outros compunham esta rua que mostrava ter vida, vida em movimento. De repente ouvi uma sirene e o trânsito parou. Obedeci. Ali fiquei parada o tempo necessário. Quando me era permitido, avançava, metro a metro. Entregue aos meus pensamentos, que nestas ocasiões, naturalmente se vão misturando uns nos outros, sem poder dar-lhes ordem para parar, fui avançando. Novamente parada e como forma de lhes fugir, olhei para a direita e fiquei encantada. Naquela pequenina loja as flores alinhadas em pequenos baldes esguios, ordenadas por cores, faziam daquele pequeno espaço um encantador cenário de alegria. Avistei um envergonhado lugar para estacionar e sem pensar parei. Sai do carro sem sentir cair em mim a forte tromba de água que caía na cidade. Entrei e a um canto estava sentada uma velhinha vestida de negro, enrolada em si própria. Pronunciei um Olá e recebi um doce olhar carregado de uma triste ternura. Pedi que me preparasse um ramo, muito grande cheio de cor, onde o verde símbolo de esperança não devia faltar, dizendo-lhe que também deveria ter pelo menos uma flor igual a todas aquelas que ali se encontravam. Fiquei encantada a vê-la fazê-lo. Não sei o tempo que demorou, mas a mim pareceu-me um segundo. Perguntei o preço, paguei, sem saber até hoje quanto custou e foi daquelas mãos experientes de uma longa e experiente vida que o recebi. Deu-me um abraço e eu num impulso entreguei-lhe o ramo dizendo-lhe: É para ti! Regressei a casa. Quis lá voltar no dia seguinte mas não sabia onde era, nem aquela rua, nem aquela loja de flores. Hoje ainda a procuro...

Uma Mesa e cinco cadeiras

Entrei.A sala praticamente vazia não tinha qualquer calor. Estava frio. Olhei para as poucas mesas que a ornamentavam. Escolhi uma, não ao acaso. Queria, ficar, na frente. Queria sentir tudo de perto. O que se previa começar dentro de alguns momentos prometia um Encontro. E ali fiquei sorrindo, porque faço sempre questão de sorrir mesmo que a minha alma chore sem que, quem quer que seja, o possa sentir. De repente os sons da música que se iria ouvir, timidamente, começaram a tomar forma. Na minha frente um copo com um liquido transparente, incolor, ali foi deixado, para me fazer companhia e apagar o fogo que a sede sentida há já muito me acompanha. As luzes foram-se apagando, uma a uma, rápidamente com a intenção de formar um aconchego a todos que entretanto foram aparecendo. O som de alguns passos fizeram-se ouvir. Continuei indiferente, apurei o meu sentido auditivo para prestar atenção ao que ali me levara. Num repente, surpreendentemente, e, sem contar, senti uma presença conhecida. Que me era comum desde há muitos anos. O calor da tua presença tinha chegado. Sem olhar para trás tive a certeza que ali estavas. E o Encontro realizou-se. Estive bem. Fez-me bem. Não esquecerei mais uma noite que acabou por engrandecer esta vida que não posso adivinhar quando terá afinal o seu fim.
Que este não seja o nosso último encontro, já que de facto também ele não é o primeiro. Até sempre...

Cartas de Amor

Naquele dia acordei com o amargo sabor da falta de amor.
Após a noite bem dormida sentia a ausência deste sentimento que outrora me trouxe o calor de o sentir. Num relâmpago de inconsciência quis sentir-te mas não era possível. Já cá não estavas. Agarrei-me à almofada, como se através deste impulso tu pudesses voltar. Mas que confusão esta a de não te sentir. Fechei os olhos na tentativa de tornar a adormecer e sentir a sensação tantas vezes sentida da tua protecção. Quis zangar-me sem saber com quem. E assim acordei para viver mais um dia carregado da tua ausência.
O dia chegou ao fim, voltei a pousar a cabeça na almofada, minha companheira de todos os dias com a esperança de adormecendo para mais uma simples noite de descanso sentir o teu amor.
Sim porque poucos conseguem afinal viver sem amor. E foi então que disse para mim própria: Mas afinal que é o amor? Será que um dia receberei de presente a oportunidade de sentir o que é o amor? …
(Autor desconhecido)