sexta-feira, 2 de abril de 2010

O brilho de um Espantalho



Fazia um passeio pelo interior da Vila de Custóias, inserida num grupo de 30 pessoas. O grupo partiu animado. Enquanto uns cantavam, outros conversavam, outros, ainda, caminhavam em silêncio. Entregue aos meus pensamentos, mas atenta a todos os pormenores,que o passeio me oferecia, observava com interesse tudo e todos os que me rodeavam. Observar as pessoas que me rodeiam adivinhar o sentir e significado das suas expressões, palavras, comportamentos sempre me seduziu.
De repente senti o meu olhar mudar de direcção. Um íman, sentia eu, assim puxava e punha em alerta total o exército de músculos,veias,artérias, nervos e sei lá que mais que comandam o olhar de todos nós. Obedeci. Deixei-me levar pois tive curiosidade em saber com que iria então ser confrontada.
Fiquei surpresa. Imaginei, no breve minuto, em que todas estas sensações tinham marcado encontro comigo, que iria cruzar-me com alguém que me observava. Tínhamos entrado numa zona menos citadina, a que outrora poderíamos chamar rural mas que agora já nem rural era, mas sim um misto de habitações chamadas prédios urbanos inseridas num conjunto de campos de cultivo sobreviventes à mudança. Foi então que pousei e fixei o olhar no espantalho que elegantemente se mostrava capaz de cumprir a sua tarefa. E apesar de agora ser apenas parte do que no passado fora, sorria com personalidade talvez querendo em silêncio dizer : Estou Só, despido do brilho de outrora, sem braços que me acarinhem, já não durmo aconchegada e enrolada nos braços daquela criança a quem fui oferecida no Natal. Agora sou Espantalho, já não sou Boneca mas continuo a ter Orgulho de Mim.

2 comentários:

  1. Olá "Clarita".
    Até que enfim te visito, gostei muito do que li, fiquei fan.
    Vou continuar a acompanhar as tuas reflexões.
    bjs

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  2. talvez o tempo traga segurança!

    um beijo, clara

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